A LINHA DOS CABOCLOS
Todos os
Caboclos são regidos por um Mistério Maior que pertence ao Trono do
Conhecimento (Regência do Orixá Oxóssi).
Mas cada Caboclo (ou Cabocla) vem na
Irradiação de um ou mais Orixás, pois eles próprios são “filhos”de determinado
Orixá e perante outros Orixás foram iniciados para trabalharem em Seus
Mistérios (exemplos: Caboclo Pena Branca: de Óxóssi e Oxalá; Caboclo Pena
Dourada: de Oxóssi e Oxum; Cabocla do Mar: de Yemanjá; Caboclo Sete Montanhas:
de Oxalá e Xangô).
Os Caboclos são espíritos muito esclarecidos e
caridosos, assim como os Pretos-Velhos. Tiveram encarnações como cientistas,
sábios, magos, professores etc. Alguns, em determinada encarnação, foram mesmo
nativos (chamados de indígenas, aqui no Brasil). Enfim, no decorrer de
encarnações, elevaram-se e vêm na Umbanda para auxiliar aos irmãos enfermos da
alma e do corpo. Muitos são escolhidos pela Espiritualidade para serem os
Guias-Chefes dos Terreiros ou então de seus médiuns.
Na linguagem comum, a palavra “caboclo”
designa o homem nativo, às vezes mestiço de branco com indígena. Mas na
Umbanda o significado é outro.
Os espíritos que se apresentam na Umbanda como
Caboclos assumem a forma plasmada de "índios" em homenagem aos povos
nativos do Brasil e de outras regiões do globo, que nutriam uma forte relação
de amor e de respeito à Natureza e muito contribuíram com seus
conhecimentos e valores morais e culturais para a formação da nossa Pátria. (V.
“Arquétipos da Umbanda”, Rubens Saraceni, Madras Editora, 2007, páginas 89/94.)
Nem todo Caboclo foi, necessariamente, um
indígena.
RUBENS SARACENI explica que, há séculos, houve
um momento em que os Regentes Planetários idealizaram uma estrutura de Trabalho
Espiritual que reuniria espíritos desencarnados originários das mais diferentes
religiões e culturas do planeta, arregimentados a partir de determinado grau
espiritual, ético, moral e de conhecimentos.
Formaram-se grupos por afinidades (de valores
culturais e morais, de especialidades etc.), porém todos voltados a um
único propósito: ajudarem-se mutuamente na tarefa de auxílio à evolução de
encarnados e desencarnados em geral. Com isto, também aceleravam as próprias
evoluções, pois estavam realizando algo inédito: até então, os desencarnados se
agrupavam no Astral conforme suas origens aqui na Terra, e ajudavam apenas aos
“da sua gente”. Agora, a Espiritualidade punha em prática um verdadeiro
Universalismo, reunindo num trabalho comum representantes de todas as religiões
e crenças antigas, muitas já desaparecidas da face do planeta. Com o tempo,
levas e levas de espíritos que desencarnavam puderam filiar-se
àqueles grupos.
Então, os Regentes Planetários idealizaram uma
religião que atuasse no plano Terra, por meio desses espíritos de índole
universalista. O local escolhido foi o Brasil, país que estava destinado a
receber povos de todas as origens e crenças (V. O livro “Brasil, Coração do
Mundo e Pátria do Evangelho”, psicografia de Chico Xavier). A religião
idealizada foi a Umbanda, que mais tarde o Senhor Caboclo das Sete
Encruzilhadas trouxe ao plano material, manifestado no médium Zélio Fernandino
de Moraes. Criaram-se as Linhas de Trabalho por especialidades de
atuação; sendo que as primeiras homenageavam os povos formadores da nossa
cultura: nativos (Caboclos) e africanos (Pretos-Velhos).
Portanto, os espíritos que atuam na Umbanda
como Caboclos têm origens culturais e religiosas diversas, e nem todos foram
indígenas (assim como nem todo Preto-Velho foi um Negro escravizado). O que
lhes dá “ a patente” de Caboclo é o seu grau de elevação perante as Leis do
Criador. São espíritos que habitam da 4ª Faixa Vibratória Positiva para cima e
que trazem no íntimo um profundo senso de Fraternidade e Irmandade para com
toda a Criação Divina.
Dentro da Linha de Caboclos há, portanto,
espíritos com diferentes graus de elevação. Fato que explica toda uma
hierarquia, onde encontramos: ●aqueles que deram nome
às Falanges e que NÃO incorporam (habitam na 7ª e 6ª Faixas de Luz, onde já não têm um corpo plasmado, são apenas Luz); ●outros, vindos da 4ª e 5ª Esferas Positivas, e de diferentes graus, que
se integram nas Falanges (e Sub-falanges etc.) e se manifestam entre nós; sendo TODOS eles mais adiantados e elevados
que seus médiuns. São espíritos evoluídos que OPTARAM por
apresentar-se dentro do Arquétipo do homem nativo, aquele que sempre viveu em
contato direto com a Natureza e que já trazia consigo um profundo senso de amor
e respeito por todos os seres e elementos à sua volta (terra, água, plantas,
animais, pedras etc.) e de harmonia com todas as forças e fenômenos
naturais (sol, lua, chuva, dia, noite, estações climáticas etc.).
A presença dos Caboclos nas Giras de Umbanda
nos leva a refletir sobre a importância do meio natural que nos acolheu e nos
ajuda a compreender que somos parte da Criação Divina e, por isso mesmo,
precisamos viver em harmonia com o Todo. Eles são um exemplo de forma de vida
simples, natural, livre de preconceitos e artifícios, de arrogância e de
vaidade. Sua atuação junto de nós é libertadora, própria daqueles que
evoluíram.
Caboclos e Pretos-Velhos manipulam ervas de
todos os Orixás porque têm essa autorização e conhecimento, conforme o grau
elevado que os distingue.
Existem Falanges de doutrinadores, de
guerreiros, de “feiticeiros” (isto é, que atuam mais fortemente na quebra de
magias negativas), de curadores, de justiceiros etc.
Os Caboclos são
profundos conhecedores das ervas e dos seus princípios ativos. Suas “receitas”
(banhos, defumações, oferendas etc.) costumam produzir curas inesperadas.
Conhecem como ninguém o Reino Vegetal e podem nos ensinar o valor e a melhor
utilização das ervas e dos alimentos vindos da terra.
Também grandes conhecedores da Magia, nos seus
trabalhos costumam utilizar pembas, velas, essências, flores, ervas, pedras,
frutas, vinho, sumo de ervas, raízes, cipós e sementes, entre outros elementos.
Usam charutos e fumos à base de ervas para defumar o ambiente e as pessoas
presentes, recolhendo e neutralizando as cargas densas que os envolvam.
Sua forte carga magnética nos impulsiona a ir
em frente, a enfrentar os obstáculos com coragem e determinação. Porque Caboclo
é o Arquétipo do guerreiro corajoso, valente, simples, honrado, justo e
harmonizado com as Forças da Mãe Natureza. Pela simples presença entre nós,
quando incorporados em seus médiuns, já nos imantam com essas fortes energias e
nos estimulam a conseguir nossos objetivos. São “caçadores”, vão buscar e nos
ensinam a buscar o melhor para a nossa evolução.
Grandes doutrinadores e disciplinadores, são
muito atuantes na orientação de sessões de desenvolvimento mediúnico, uma vez
que os Guias Espirituais agem principalmente sobre o mental do médium, que está
relacionado ao Chakra Frontal, regido por Pai Oxóssi, justamente o Regente do
Mistério Caboclo.
Também atuam nas desobsessões, na solução de
problemas psíquicos e materiais, na quebra de demandas, entre outros trabalhos
espirituais de Umbanda, utilizando vários recursos magísticos nos quais são
iniciados. Não ostentam conhecimentos, colocam-nos em prática!
Seus assobios e brados assemelham-se a
mantras. Cada Caboclo emite um som, de acordo
com o trabalho que vai realizar, criando
condições que facilitem a incorporação e liberando bloqueios energéticos dos
médiuns e consulentes. Os assobios traduzem sons básicos das Forças da
Natureza, dão um impulso no campo magnético (corpo espiritual) do médium para
direcioná-lo corretamente, liberando-o de cargas negativas, larvas e miasmas
astrais. Nos consulentes, produzem igual efeito.
Os Caboclos incorporados também costumam
estalar os dedos, bater no peito e estender o braço na direção do Altar. Tudo
isto tem um significado magístico-religioso:
●Estalar
dos dedos- Nossas mãos têm vários
terminais nervosos que se comunicam com os sete chakras principais e com os
chakras menores do nosso corpo. O estalar dos dedos se dá sobre o Monte de
Vênus (a parte gordinha da palma da mão) e reequilibra a rotação e a frequência
de todos os chakras, que voltam a funcionar plenamente. O equilíbrio
vibracional gera a consequente descarga de energias desequilibradas
(“negativas”). Ao estalar os dedos, o Caboclo provoca essas reações no campo
magnético do médium ou, conforme o caso, descarrega o campo do consulente. Ao
estalar os dedos da mão esquerda, ele absorve negatividades e faz uma limpeza
energética; e quando estala os da mão direita, ele irradia cargas altamente
positivas e reenergiza, acalma, cura etc.
●Bater
no peito- Com isso, o Caboclo ativa o chakra Cardíaco do médium e equilibra suas
emoções, possibilitando uma
sintonia mais apurada com o medianeiro e a efetivação de um bom trabalho
espiritual.
●Estender
os braços (ou um braço) para o Altar- Com esse gesto, o Caboclo lança uma “flecha energética” que ativa os Poderes e Forças assentados e firmados no Terreiro, conforme
a necessidade do trabalho espiritual a realizar.
Esses procedimentos criam um grande centro de
Forças que facilita o amparo aos consulentes, ao próprio Terreiro e a toda a
corrente mediúnica.
Alguns Caboclos, quando se despedem do
Terreiro, dizem que vão “para Aruanda”, ou “para a cidade da Jurema”. Outros
falam que vão “subir para o Humaitá”, e assim por diante. São referências às
colônias astrais que existem ligadas ao planeta Terra, onde eles habitam,
conforme o respectivo grau de evolução. E muitas vezes os Caboclos responsáveis
por Terreiros levam para essas colônias os dirigentes e demais integrantes da
corrente mediúnica (durante o desdobramento normal dos seus espíritos que
acontece durante o sono físico), a fim de participarem de trabalhos de auxílio
a encarnados e desencarnados, para estudarem e ou receberem. Um trabalho
espiritual de Umbanda não termina no Terreiro, ele prossegue no Astral. Por
isso, é importante que os médiuns sigam as orientações dos Guias Espirituais
sobre os preceitos para antes e depois das Giras (manter pensamentos e
sentimentos elevados e uma vida diária equilibrada, inclusive no campo sexual;
abster-se, ao menos por 24 horas antes e depois do trabalho espiritual,
do uso de bebida alcoólica, fumo e de qualquer substância nociva, mantendo
uma alimentação isenta de alimentos de origem animal, porque são de difícil
digestão; etc.).
Algumas pessoas perguntam o porquê de uma
Linha de Trabalho Espiritual “homenagear” os povos nativos, supondo que eles
seriam ignorantes e primitivos.
Para desfazer essa dúvida, vamos aqui
reproduzir trechos do livro “MUITO ANTES DE 1500”, de DOMINGOS MAGARINOS
(EPIÁGRA R.+.), que trata sobre as crenças e
cultos religiosos dos povos nativos do
Brasil e da América, com base em pesquisas realizadas por vários especialistas
de renome.
O Autor aponta que os povos nativos
(“indígenas”) da América, na época do descobrimento, mantinham cultos muito
parecidos com os das culturas indiana, egípcia e grega. Eles já cultuavam a
Cruz, o Sol e O Menino Louro ou Menino Deus (seria o Menino Jesus dos
cristãos). Isso indicaria uma origem comum entre essas culturas e a dos povos
americanos.
Diz ele: Paulo Schliemen é de opinião que as culturas grega, egípcia,
indiana e americana tiveram origem comum. Apolo, Osíris, Ormuzd, Indra, Tomatiuh
e o próprio Amon-Rá, o Deus-Sol, tão venerado no velho Egito, derivam (...) de
Rá-Ná, o Deus-Sol dos maias, porque a América foi o berço da helionose (culto
ao sol), conforme atestam as ruínas de Tiahuanaco. Cieza de Leon, Garcilasso de
La Vega e o próprio Clemente Rice argumentam que os símbolos solares,
insculpidos nos milenares monumentos monolíticos encontrados nessa região,
objetivam, plenamente, que toda a remotíssima civilização pré-incaica girou em
torno do Sol, fato que autoriza e justifica a versão quíchua da antiguidade e
da origem americana do culto solar.
Le Plongeon demonstrou que Osíris, Ísis e Seth são vocábulos derivados do
idioma falado no México há mais de 11.500 anos antes da era Cristã.
Scott-Elliot, depois de estudar a Atlântida e os atlantes, sob vários
pontos de vista, fala-nos da inédita cultura americana, dizendo: “Nada parece
ter surpreendido mais os aventureiros espanhóis, no México e no Peru, do que a
semelhança extraordinária das crenças religiosas, dos ritos, dos emblemas do
velho mundo com os que encontraram no novo. Os padres espanhóis viram nessa
semelhança a intervenção maléfica do diabo. O culto da Cruz entre os nativos e
a presença desse símbolo nos edifícios e solenidades religiosas foram para eles
motivo de assombro. De fato, em parte alguma do mundo, na Índia ou no Egito, a
Cruz era tida em maior veneração do que entre os povos primitivos do continente
americano. E o que é mais extraordinário é a semelhança das palavras que
significam DEUS nas principais línguas antigas do Ocidente e do Oriente.”
Com efeito, DYAUS ou DYAUS-PIETER- DEUS, em sânscrito; THEUS ou ZEUS, em
grego; DEUS PATER ou JÚPITER, em latim; DIÁ ou TÁ, em celta; YAH ou THIÁ, em
hebraico; ZÉO, TÉO ou TÁO, no idioma dos atlantes e dos aborígenes da América
pré-colombiana, confirmam plenamente a afirmativa do notável autor da History
of Atlantis.
O mesmo quanto às divindades solares, como RÁ-ANGA, entre os brasis
pré-históricos; GUARACY, entre os tupi-guaranis; UARASSÚ ou YARASSÚ (vocábulo
tupi) entre os babilônios; RÁ-MANÚ, entre os assírios; RÁ-NÁ, entre os maias;
INDI RÁ, RÁ-MÁ, RÁMA-TCHANDRA, RÁ-VI, entre os indianos; e ainda RÁ-MA, que
originou o termo Roma, entre os romanos (cognominados ramnes).
Mas não é tudo: YUPITAN, que lembra Júpiter, é um vocábulo abanheenga, a
fala do homem primitivo, a língua que precedeu o nheengatú, a língua boa, a
língua sagrada dos tupis-guaranis. Esse vocábulo é composto por YÚ- que
significa louro- e PITAN, que significa infante ou criança e, portanto, mancebo
ou menino louro, designando o filho do Sol, como foi perpetuado em vários
cultos aborígenes do Brasil.
O Menino Louro ou Deus Menino- Horus dos egípcios; Harpocrates dos
gregos; Dionysius dos romanos, Menino Jesus dos primitivos cristãos e, ainda
hoje, dos católicos romanos- é uma reminiscência milenar do esquecido YUPITAN
da arcaica teogonia amerígena.
Esse YUPITAN ou YUPITÃ aparece, às vezes, sob a forma de YUBÁPITANGA.
Chamam-no também ARAPITÃ, isto é, filho de ARACY, a mãe da luz (de ara=luz e
cy= mãe, raiz, origem ou princípio).
Humboldt, Prescott, Brasseur de Bourbourg, Le Plogeon e todos, em suma,
que pesquisaram realmente as ruínas arqueológicas do México, do Peru, da
Bolívia, do Chile e outros países da América, inclusive o Brasil, encontraram
provas positivas de que o batismo, a confissão, a quaresma e outras cerimônias
consideradas católicas constavam dos seus misteriosos rituais. HÚ, no Yucatan;
INTI, em Cuzco; como AUM, na Índia e no próprio Peru, simbolizavam o
IMPRONUNCIADO, o INOMINÁVEL {=Deus}.
QUETZALCOATL foi a primeira manifestação cristônica para os povos da 5ª.
Raça Raiz. A sua identidade com Krishna, Zoroastro, Thôt, Orfeu e Jesus é
incontestável. Foi a primeira humanização do Cristo cósmico. O Kukul-Kan dos
maias. O Yurupari dos tupis-guaranis. (Fonte: OBRA CITADA, páginas 53/54,
MADRAS EDITORA, 2005.)
Então, retomando:
Ainda que os Caboclos da Umbanda fossem
“apenas” espíritos de indígenas (e já foi visto que não é assim), está aí
demonstrado o grande valor cultural e religioso dos povos nativos que esta
Linha homenageia. Só isto bastaria para nos sentirmos abençoados pela
Misericórdia Divina, pela possibilidade de entrarmos em contato com esses
espíritos tão valorosos e simples.
Que possamos ter sempre a bênção dos Paizinhos
Caboclos e das Mãezinhas Caboclas em nossas vidas. Salve os Caboclos da
Umbanda!
Nomes simbólicos: Tupinambá; Jurema; Sete Flechas; Pena Branca; Pena
Verde; Pena Roxa; Pena Dourada; Pena Vermelha; Pena Amarela; Pena Azul; Pena
Marrom; Cobra Coral; Arranca Toco; Iara; Jaci; Tupi; Araribóia; Toco; Jupiara;
Caboclo do Sol; Caboclo da Lua; Estrela; Giramundo; da Cachoeira; Sete
Pedreiras; Sete Montanhas; Sete Espadas; Flecha Branca; Folha Branca; Sete Penas; Sete
Folhas; Ventania; Rompe Mato; Urubatão; Ubirajara; Aimoré etc.
Alguns nomes revelam os Orixás regentes dessas
Entidades e o seu campo específico de trabalho. Outros nomes são ocultadores
(V. “Tratado Geral de Umbanda”, Rubens Saraceni, Madras Editora).
Seguem alguns exemplos de nomes reveladores:
I- Caboclos que têm nome em tupi-guarani: Exemplos: Tupã, Tupi,
Tupinambá, Aimoré, Icaraí, Ubirajara, Urubatão, Urubatã, Jaci, Indaiá, Jacira.
Para saber qual Orixá os rege e lhes dá um campo específico de atuação,
precisamos traduzir o nome.
Exemplos:
CABOCLO ICARAÍ- Icaraí significa “água santa”. A água é um elemento de
Yemanjá. O que torna algo “santo” é a Presença de Deus (o Alto do Altíssimo); e
o Orixá que representa o mais Sagrado é Oxalá (porque rege o Sentido da Fé,
base da religião). Logo, é um Caboclo de Oxóssi, Yemanjá e Oxalá;
CABOCLO TUPINAMBÁ- Tupinambá significa “filhos de Tupi” (ou de Tupã).
Tupi é a Raiz, o Pai. Por analogia, o Orixá Oxalá é “o Pai” (porque o Seu Fator
Magnetizador é a base da Criação). Logo, é um Caboclo de Oxóssi e Oxalá;
CABOCLO URUBATÃO- Urubatão (ou Urubatã) significa “madeira dura”. Madeira
vem de árvore=Oxóssi; mas a madeira é a árvore que foi cortada e passou por uma
transformação= Obaluayê; e dura= dureza= força=Ogum. É um Caboclo de Oxóssi,
Obaluayê e Ogum;
CABOCLO URUBATÃO DA GUIA-Valem as explicações anteriores. Acrescente-se
que “guia” vem de “estrela guia”, um símbolo de Oxalá. Logo, este Caboclo é de
Oxóssi, Obaluayê, Ogum e Oxalá;
CABOCLO UBIRAJARA- Ubirajara significa “o atirador de lança”. A lança é
de Ogum. Logo, é de Oxóssi e Ogum.
CABOCLA JACI- Jaci é “a deusa da lua”, que é associada às Divindades Ísis
(egípcia) e Lakshmi (hindu). Estas, por sua vez, são relacionadas a Oxum. Logo,
seria uma Cabocla de Oxóssi e Oxum. Mas a lua também pode ser associada a
Oyá-Tempo, Yemanjá e Nanã, de modo que pode ser uma Cabocla com essas
regências.
CABOCLA JACIRA- Jacira significa “inseto que produz mel”. Quem produz mel
é a abelha, que pertence ao reino de Oxóssi. Mas o mel também representa a
doçura, que se associa a Oxum. Logo, é uma Cabocla de Oxóssi e Oxum.
CABOCLO (A) INDAIÁ- Indaiá, em tupi-guarani, é um tipo de palmeira. Sendo
um elemento vegetal, está ligado a Oxóssi. Seria um Caboclo (a) na Irradiação
pura de Oxóssi.
II- Caboclo “Pena”: Todo Caboclo Pena traz uma qualidade voltada para
ensinar, doutrinar. A pena é de Oxóssi, Orixá do Conhecimento.
Nessa Falange, temos: ●Caboclo
Pena Branca- o branco é a cor de Oxalá; logo, é um Caboclo voltado para ensinar
a Fé (é de Oxóssi e Oxalá); ●Caboclo
Pena Dourada- o dourado é uma cor de Oxum; logo, vem para ensinar o Amor (é de Oxóssi e Oxum); ●Caboclo Pena Verde- o
verde é de Oxóssi; logo, vem para expandir o Conhecimento;
(atua na Irradiação pura de Oxóssi); ●Caboclo Pena Marrom- o marrom é de Xangô; logo, vem para ensinar a Justiça (é de Oxóssi e Xangô); ●Caboclo Pena Vermelha- o
vermelho é de Ogum; logo, vem para
o ensino da Lei (é de Oxóssi e Ogum); etc. A cor que aparece no nome do Caboclo indica a qual
Orixá está relacionado e em qual Sentido da Vida ele vai atuar, especificamente.
No caso do Caboclo Sete Penas, o “sete” indica que ele atua nos Sete
Sentidos da Vida, ou seja, na Irradiação de todos os Orixás, sendo um
doutrinador de almas.
III- Caboclo “Flecha”: Todo Caboclo Flecha traz duas qualidades
fundamentais: uma voltada para o Conhecimento (pois a flecha é de Oxóssi) e a
outra voltada para o Sentido da Direção (porque a flecha também aponta numa
direção, ela dá direção- Qualidade de Yansã). São Caboclos que atuam para dar
um direcionamento na busca do Conhecimento, na expansão do nosso aprendizado. E
a cor que aparecer no nome do Caboclo dará o campo específico da sua atuação.
Nessa Falange, temos: ●Caboclo
Flecha Branca= direcionador do Conhecimento no campo de Oxalá= Fé; ●Caboclo Flecha Dourada=
direcionador do Conhecimento no campo de Oxum= Amor; etc.
Já o Caboclo Sete Flechas é um direcionador do Conhecimento nos Sete
Sentidos da Vida (Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração). É
um direcionador de almas, de espíritos.
IV- Caboclo “Folha”: Todo Caboclo Folha traz qualidades de Oxóssi, pois a
folha é de Oxóssi, o Senhor do Reino Vegetal. E a cor da folha indicará
qual outro Orixá os rege e o campo específico de suas atuações.
Nessa Falange, temos: ●Caboclo
Folha Branca (de Oxóssi e Oxalá); ●Caboclo Folha Dourada (de
Oxóssi e Oxum); ●Caboclo Folha Verde (Irradiação pura de Oxóssi); etc.
Quanto ao Caboclo Sete Folhas, há uma particularidade: a folha serve para
curar; e o Orixá “dono de todas as folhas” e que cura pelas folhas é Ossaim.
Como o Caboclo Sete Folhas trabalha com todas as folhas (nas sete Irradiações),
vemos que traz qualidades de Ossaim. (Ossaim não é cultuado diretamente na
Umbanda, e sim dentro do campo de Oxóssi.)
V- Caboclo “Pemba”: Todo Caboclo Pemba traz qualidades de Oxum (Trono
Mineral), pois a pemba é um mineral. São Caboclos de Oxóssi e Oxum. Oxóssi traz
o Conhecimento e a expansão; Oxum é agregadora, atrai e reúne com
harmonia.
Como nos exemplos anteriores, a cor que aparece no nome (Pemba Branca,
Pemba Roxa etc.) indica o campo específico da sua atuação. Já o Caboclo Sete
Pembas atua nos Sete Sentidos da Vida. (Fonte dos itens I/V: Anotações de aula
do Curso Virtual de Teologia de Umbanda ministrado por Alexandre Cumino, turma
11, Plataforma EAD do Instituto Cultural Aruanda.)
VI- Outros nomes:
●Os elementos, pontos de forças, as cores, instrumentos (flecha, escudo etc.) e condições climáticas que aparecem no nome do Caboclo dão uma indicação do Orixá que o
rege e do seu campo de atuação. Exemplos: Caboclo dos Rios (Oxum); Caboclo
Ventania (ventania= ar em movimento= Yansã); Caboclo do Fogo (Xangô); Caboclo
da Terra (Omolu); Caboclo do Mar (Yemanjá); Caboclo do Ouro (Oxum); Caboclo do
Lago (Nanã); etc.
●Há nomes ligados a verbos
ou ações. Exemplos: Caboclo
Rompe-Mato: romper é um ato de força= Ogum; mato= Oxóssi; logo, é de Oxóssi e Ogum; Caboclo Quebra Pedra: quebrar= Ogum; pedra= mineral=Oxum;
logo, é de Ogum e Oxum.
●Os nomes de animais, em especial os de felinos (gato, jaguatirica,
leopardo, leão, onça, tigre, pantera, jaguar), em geral estão diretamente associados a Oxóssi, que é o Senhor do Reino Vegetal (flora) e também da fauna (animais).
Mas alguns têm outras particularidades. Exemplo: CABOCLO COBRA CORAL. A
cobra é um animal associado ao Orixá Oxumarê (a Serpente de Dan). E a cobra
coral tem as cores vermelha (de Ogum), preta (de Omolu), amarela (de Yansã) e
branca (de Oxalá). Logo, é um Caboclo que atua na Irradiação de Oxumarê, Ogum,
Omolu, Yansã e Oxalá. (Fonte: Rubens Saraceni, “Doutrina e Teologia de Umbanda
Sagrada” e “Tratado Geral de Umbanda”, ambos da Madras Editora.
Dia da semana: 4ª
feira, que é associada ao Orixá Oxóssi porque tem a regência de Mercúrio, o
planeta da comunicação e do conhecimento.
Linha de trabalho (campo de atuação): Conhecimento, comunicação, expansão do ser pelo aprendizado; prosperidade
em todos os setores; fartura; cura espiritual e material.
Ponto de Força: É a mata, onde recebem
oferendas.
Cor: Sua cor preferencial é o verde. Na confecção
das guias ou colares, alguns Terreiros usam contas de cor verde transparente
para as Caboclas e verde leitoso para os Caboclos. Outros utilizam contas
brancas e verdes, bem como sementes.
Elementos de trabalho:
1- Ervas de todos os Orixás
ADRIANO CAMARGO relaciona as seguintes ervas: a) Quentes ou agressivas:
guiné, picão preto, espinheira santa, jurema preta (casca),
comigo-ninguém-pode; b) Mornas ou equilibradoras: abre caminho, alecrim
(todos), alfavaca, anis, arnica do mato, café folha, cipó caboclo, cipó cravo,
cipó São João, louro, manjericão, peregum verde, samambaia.
Banho/Amaci de purificação ou de cura: guiné, arruda, jurema preta, quebra demanda, espadas de São Jorge e de
Santa Bárbara, arnica, samambaia.
Banho/Amaci de apresentação, de Gira ou iniciação: alecrim, manjericão, hortelã, capim cidreira, folhas de café,
peregum verde, flores variadas.
PORTAIS DE CURA:
círculo de raízes, flores, folhas frescas e secas, quartzo verde, mel, velas
verdes e velas brancas.
2- Pemba, penas, fitas, pedras, arcos,
flechas, lanças;
3- Sementes- Exemplos: Olho de boi: Associado aos Orixás Oxóssi, Yansã e
Oxalá. Proporciona saúde, vigor físico, recuperação energética, cura de
energias “doentes”. Magnetiza a cura espiritual e material; Olho de cabra:
Relacionado aos Orixás Oxumarê, Ogum e Omolu. É um bloqueador de energias
agressivas. Envolve e imanta como capa protetora que fulmina tudo o que tenta
ultrapassá-la e que não atenda aos propósitos da sua consagração. (Fonte:
ADRIANO CAMARGO.);
4- Cipós (Fonte: ADRIANO CAMARGO). Exemplos: Cipó de caboclo (Orixá
Oxóssi); Cipó cravo (Orixás Oxóssi, Yansã e Xangô); Cipó São João (Orixás
Oxóssi, Yansã, Xangô, Egunitá e Omolu); Cipó angelicó ou mil homens (Orixá
Xangô); Cipó suma (Orixás Oyá-Tempo e Nanã); Cipó prata (Orixá Oyá-Tempo); Cipó
cabeludo (Orixás Oxum e Omolu); Cipó seda (Orixá Oxum); Cipó cruz (Orixá
Obaluayê); Cipó azougue (Orixá Yansã).
5- Fumo/Defumações: charuto, benjoim, mirra, ervas secas, flores secas.
Pedra: Quartzo verde; as
Pedras verdes em geral (Amazonita, Crisopázio, Jade, Esmeralda, Turmalina
Verde, relacionadas ao Orixá Oxóssi).
Cozinha ritualística:
1- Milho verde e amendoim. Regar com mel, cobrir com coco ralado e
enfeitar com morangos e ou ervas frescas.
2-Abóbora passada no azeite de oliva. A abóbora comum (amarela) pode ser
cozida em pedaços. A abóbora japonesa (esverdeada e arredondada) pode ser
aferventada inteira, retirando-se a tampa e removendo-se as sementes; passar as
sementes no azeite de oliva e colocar dentro da abóbora, salpicando orégano.
Decorar com ervas frescas, já lavadas.
3-Brotos de abóbora passados em azeite de oliva e enfeitados com sementes
de abóbora ligeiramente torradas (secar um pouco no forno). Isto tem um efeito
curativo maravilhoso e também dá “forças” para os médiuns, revitalizando seus
campos energéticos.
4-Feijão branco, feijão fradinho, grão de bico, fava vermelha, fava
branca, ervilhas e lentilhas. Usar pelo menos dois tipos de grãos. Aferventar
ligeiramente cada tipo de grão em separado e depois refogar todos juntos em
azeite de oliva, sal, alho, cebola e tomate picadinhos e decorados com cheiro
verde e temperos frescos a gosto.
5-Frutas variadas; legumes, verduras e raízes variadas. Colocar tudo numa
gamela de madeira, fazendo um arranjo bonito e bem colorido. As verduras podem
forrar a gamela e ser colocadas ladeando as frutas e legumes (como uma
“renda”).
7-Moranga com frutas: Tirar uma tampa da moranga e limpá-la. Colocar a
moranga sobre folhas de taioba (ou de abóbora) e colocar dentro dela frutas
variadas. Cercar com 7 copos de sumo de ervas (ou vinho). Entre os copos,
firmar 1 vela verde (ou bicolor branca/verde).
OBSERVAÇÃO: Na Umbanda, é comum que as comidas cozidas sejam consagradas
e depois ingeridas pelos médiuns e a assistência, como forma de comunhão do
“axé”. Já as oferendas, propriamente, não passam por cozimento porque dos
elementos naturais os Guias vão extrair o prana (energia vital) e direcioná-lo
para o fim necessário (cura, limpeza energética etc.). Quando um alimento é
cozido, boa parte do prana é perdida; e para os efeitos magísticos pretendidos
pelos Guias isso não é aconselhável.
Bebidas: Cerveja branca;
vinto tinto; mel; suco de frutas; chá verde; vinho tinto doce; vinho rosado
licoroso; vinho branco de mesa; cerveja clara; sumo de ervas com água mineral e
vinho, adoçado com mel.
Frutas:
Variadas, tais como: abacate, amendoim, abóbora, maçã, pera, moranga, morangos,
grãos, trigo, carambola, milho verde, mamão, uva, laranja, banana.
Flores:
Todas, principalmente flores do campo; samambaia.
Velas: Verdes; ou bicolores
branca/verde.
Oferenda ritual:
Toalha de tecido verde com barrado branco; pembas verde e branca; fitas e
linhas nas cores verde e branca; frutas; bebidas; moranga; milho. (Fonte: Mãe
Mônica Berezutchi, “JUS” de julho/2009.) Podemos acrescentar ervas frescas,
flores do campo e samambaias, cercando tudo com velas verdes e brancas (7 de
cada) ou então com 7 velas bicolores branca/verde.
Saudação: Okê,
Caboclo!
CABOCLO NA CULTURA BRASILEIRA E NA UMBANDA- Por
ALEXANDRE CUMINO
O Caboclo das Sete Encruzilhadas, incorporado no seu médium Zélio
Fernandino de Moraes, foi a primeira entidade a se manifestar na Umbanda,
fundando a religião.
Neste dia, foi observado que ele estava com vestes de sacerdote católico
e plasmado como tal. Quando questionando por um médium clarividente sobre esta
condição, o caboclo afirmou ter sido, em uma de suas encarnações, Frei Gabriel
de Malagrida e que na última encarnação havia tido a oportunidade de encarnar
como um índio brasileiro, e desta forma ele queria ser identificado.
Assim, em sua primeira manifestação de Umbanda, a entidade se manifestou
como caboclo e ao mesmo tempo ficou claro que desta forma se apresentou por
opção, e não por falta de opção. Identificou-se como um espírito muito
esclarecido e que facilmente seria reconhecido como autoridade no mundo
material, mas preferiu a identificação humilde e despersonalizada de “caboclo
brasileiro”. Surge então o questionamento do que realmente quer dizer a palavra
Caboclo em nossa cultura e, de forma mais específica, na Umbanda.
O dicionário Aurélio, nos diz que Caboclo é o: 1. Mestiço de branco com
índio; cariboca, curiboca. 2. Antiga designação do indígena. 3. Caboclo de cor
acobreada e cabelos lisos; caburé. 4. Sertanejo.
Um dos maiores pesquisadores, se não o maior, de nossa cultura, folclore
e suas influências, Luiz da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore
Brasileiro, onde aparece o verbete Caboco (assim mesmo sem o “l”de caboclo),
descreve:
O indígena, o nativo, o natural; mestiço de branco com Índia; mulato
acobreado, com cabelo corrido. Morais fazia provir de cobre, cor de cobre,
avermelhado. Diz-se comumente do habitante dos sertões, caboclo do interior,
terra de caboclos, desconfiado com caboclos. Foi vocábulo injurioso e El-Rei
Dom José de Portugal, pelo alvará de 4 de abril de 1755, mandava expulsar das
vilas os que chamassem os filhos das indígenas de caboclos: “Proíbo que os ditos
meus vassalos casados com as índias ou seus descendentes sejam tratados com o
nome de cabouçolos, ou outro semelhante que possa ser injurioso.” Macedo Soares
registra a sinomínia tradicional do caboclo: caburé, cabo-verde, cabra, cafuz,
curiboca, cariboca, mameluco, tapuia, matuto, restingueiro, caipira. Da antiga
denominação de cabocloaos mestiços avermelhados ainda há a imagem da cor
maribondo caboclo, boi caboclo, formiga cabocla, pomba cabocla, todas com
tonalidades vermelhas ou tijolo. Era até fins do séc. XVIII, o sinônimo oficial
de indígena.
Hoje indica o mestiço e mesmo o popular, um caboclo da terra. Discute-se
ainda a origem do vocábulo, indígena ou africano. Folclore: Gustavo Barroso (Ao
som da Viola, Rio de Janeiro, 1921) fixou o “Ciclo dos Caboclos” (403-419) com
documentário poético e anedotal. O caboclo no folclore brasileiro é o tipo
imbecil, crédulo, perdendo todas as apostas e sendo incapaz de uma resposta
feliz ou de um ato louvável. Gustavo Barroso lembra que essa literatura
humilhante é toda de origem branca, destinada a justificar a subalternidade do
caboclo e o tratamento humilhante que lhe davam. Os episódios vem, em boa
percentagem de fontes clássicas, com a mera substituição da vitima escolhida.
O caboclo é o Manuel tolo, o Juan tonto europeu, aclimatado no continente
americano com o nome de João bobo, uma espécie de sábio de Gothan. Há muitas
histórias em louvor do caboclo, sua inteligência, registradas no citado livro,
assim como no de José Carvalho (um matuto cearense e o caboclo do Pará, 9-15,
Belém, 1930). Namoro de caboclo é aquele em que a namorada ignora quem é seu
apaixonado. Num outro episódio entre o caboclo, o padre e o estudante,
repete-se o motivo do melhor sonho (Mt-1626, de Aarne-Thompson). Quem tiver o
mais bonito sonho comerá o queijo. Pela manhã o padre descreveu a ascensão para
o Céu; o estudante sonhara com o próprio paraíso.
O caboclo informou que, vendo um dentro do Céu e outro já perto, comera o
queijo, porque ambos não mais precisariam. E tinha comido mesmo (Gustavo
Barroso, 413-414). É a fábula XVII do Displina Cléricalis, de Padre Afonso
(1062-1110), entre dois burgueses e um camponês, a caminho de Meca. Um dos
divulgadores da novelística italiana foi Geraldo Sintio (um romano, numero 3 do
Ecatommt), que a diz sucedida em Roma, no ano de 1527, com um filósofo, um
astrólogo e um soldado. O tema está em quase todos os idiomas, formas e
literaturas, dispensando bibliografia ilustradora. O caboclo aceitou, com a
sujeição física, essa popularidade pejorativa para oficializar a inferioridade
de seu estado (Luiz da Câmara Cascudo, 30 Estória Brasileiras, “O Preço do
Sonho”), 30-32, Porto, 1955. Devíamos escrever “Caboco”, como todos pronunciam
no Brasil, e não “Caboclo”, convencional e meramente letrado. Caboco vem de Caá,
Mato, Monte, Selva; e Boc, Retirado, Saído, Provindo, Oriundo do Mato, exata e
fiel imagem da impressão popular, valendo o nativo, o indígena, caboco bravo, o
roceiro, o matuto bruto, chaboqueiro, bronco, creduo, mas, vez por outra,
astuto, finório, disfarçado, zombeteiro. Cabôco, e a pronuncia nacional, mesmo
para os letrados que escrevem “caboclo”, Caá-Boc, tirado ou procedente do mato,
registra Mestre Thedóro Sampaio.
Depois de toda esta explicação de Câmara Cascudo, fica claro o que quer
dizer a figura do caboclo em nossa cultura. Com a dizimação do índio em nosso
convívio, o tempo vai dissociando sua imagem da palavra, e cada vez mais o
vocábulo caboclo vai se tornando na figura de linguagem um homem simples.
Os espíritos que militam na Umbanda se dividem em falanges ou povos,
sejam de caboclos ou de pretos velhos, baianos, boiadeiros, marinheiros,
crianças, ciganos, exu e pomba-gira.
Vemos uma identificação despersonalizada de ego que caracteriza aqueles
que estão acima da identidade individual, ou seja, as entidades na maioria das
vezes não usam seus nomes de batismo, estando aquém de qualquer identificação,
transcenderam a individualidade. São muitos espíritos que usam o mesmo nome
como: Pena Branca, Pena Verde, Pena Roxa, Pena Vermelha, Pena Dourada, Flecha
Branca, Folha Branca, Sete Flechas, Sete Penas, Sete Folhas, Sete Montanhas,
Ventania, Rompe Mato, Urubatão, Ubirajara, Aimoré, Tupinambá, e outros.
Chegamos até a encontrar num mesmo terreiro dois ou mais caboclos que
usam o mesmo nome, pois não é seu nome como indivíduo, e sim, um nome que
identifica seu trabalho e a força que o rege.
Por exemplo, Pena Branca é de Oxóssi e Oxalá; Pena Dourada é de Oxóssi e
Oxum; Sete Montanhas é de Xangô; Ubirajara é de Oxóssi e Ogum, etc.
Caboclo é um Mistério na Umbanda, uma linha de trabalho, uma falange, um
grau, o identificador de entidades que trabalham nesta vibração que está ligada
ao Orixá Oxossi, o Orixá das Matas. Existem caboclos de todos os Orixás e todos
têm algo em comum que os identifica como tal, presente em sua forma de
apresentação.
Nossa essência, nosso espírito, não tem cor, nem raça. Muitos podem
entender o que isto quer dizer, mas viver assim só é possível para aqueles que
já se desapegaram da matéria e de sua individualidade, não vivem ou trabalham
apenas para si e sim para o todo.
Assim são os Caboclos. Poderíamos escrever páginas e páginas falando
sobre o Caboclo na Umbanda, mas talvez o mais importante é que eles não sejam
subestimados, pois apenas uma coisa é certeza: embora não pareça, todos eles
são muito mais que caboclos. Fato que apenas não é visível ao leigo, pois como
caboclos, foi apenas a forma que eles escolheram para se manifestar.
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