quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Trono Masculino do Cristal



TRONO MASCULINO DO CRISTAL
PAI OXALÁ

No caso de Oxalá o nome dele tem um sentido de ser, existe uma tradução possível. Nem tudo no Iorubá é de tradução literal. As vezes a tradução é colocada com o que é que quer dizer aquela palavra mas o nome Oxalá tem uma origem, é uma contração da palavra: Orixá N’tiAlá que quer dizer o Orixá que veste o branco. É curioso porque Ala é o nome de Deus no Islã e aqui ele aparece como parte do nome de Oxalá mas aqui Ala quer dizer branco. Essa frase foi passando por uma contração para: Orixá N’lá – Orixá de branco  Depois para Orixalá. Orixalá que em alguns lugares ainda se fala e as vezes se fala que Orixalá quer dizer “O Maior dos Orixás”. O maior dos Orixás é um qualitativo mas não é tradução da palavra porque Orixalá é contração de Orixá N’la ou Orixá N’tiAlá então ainda quer dizer Orixá que se veste de branco, e finalmente Oxalá.  A palavra Oxalá como remonta a essa origem, Oxalá é Orixá que veste o branco ou Orixá de branco, o Orixá do branco e tudo aquilo que a cor branca representa e não é por acaso que a bandeira branca é a bandeira da paz, a cor branca é a cor da paz. Embora hoje o pai Ronaldo Linares reconheça e identifique uma bandeira como a bandeira da Umbanda, sempre, em todos os tempos foi cantado que a bandeira da Umbanda é a bandeira branca, a bandeira da paz, a bandeira de Oxalá, então tudo isso está intimamente ligado. Oxalá é um Orixá, é importante que se diga isso, é um Orixá e ele tem outros nomes como por exemplo Obatalá.  Obatalá é outro nome para Oxalá, não é outro Orixá. Oxalá e Obatalá é o mesmo Orixá. Obatalá : “Oba” que quer dizer rei, Obatalá vem de “Oba N’tiAlá” então Obatalá quer dizer o “O Rei que se veste de branco”, é o mesmo Oxalá. Surgirá ainda dentro desse campo de Oxalá, surgirá ainda Oxaguiã e Oxalufã. Oxaguiã é um Oxalá, não é O Oxalá, mas é um Oxalá jovem e Oxalufã é um Oxalá velho. Para falar de Oxaguiã e Oxalufã a gente já começa a entrar no campo de Orixás intermediários porque é Oxalá jovem aquele intermediário de Oxalá com Ogum, de Oxalá com Iansã, de Oxalá com Logunã, são Oxalás jovens; Oxalufã como Oxalá velho é intermediário de Oxalá para Obaluayê ou de Oxalá para Nanã Buruque, ou seja, Oxalá no mistério ancião, no mistério jovem ou guerreiro. São intermediários e a gente vai falar mais sobre Orixás maiores, Orixás menores e Orixás intermediários.  Agora, nesse momento, importante é entender quem é Oxalá. A primeira letra que a gente tem é “Orixá de Branco”, da cor branca. O nosso estudo é voltado para a Umbanda mas é importante sim de vez em quando dar um pitaco, um parecer, fazer uma lembrança ou referência sobre a Cultura Nagô Iorubá. Na Cultura Nagô Iorubá, que é o culto de Orixá na África ou o Candomblé Brasileiro, existe uma classe de Orixás que são chamados de Orixás Funfun. O que é Orixá Funfun ? É o conjunto dos Orixás que vibram dentro da cor branca ou do axé (axé quer dizer poder de realização) no branco.  Então Oxalá é um Orixá Funfun, um dos Orixás Funfun. Dentro dos Orixás Funfun que é Oxalá, Obatalá outro nome para Oxalá, Oxaguiã, Oxalufã a gente tem também por exemplo Orumilá. Quem é Orumilá ? Orumilá é o Orixá do Oráculo de Ifá, Orixá da revelação. Aparece muito nas lendas de Exu e ele também é um Orixá do branco, da cor branca e há uma série de outros Orixás que vibram nessa cor branca. Orumilá não aparece como um dos 14 Orixás mas ele vai ter uma relação estreita com Oxalá no que diz respeito a essa relação de presente, passado futuro na linha do tempo. Oxalá faz uma parceria ou um par com um Orixá feminino que a gente chama de Logunã ou Oiá Tempo, que é assunto da próxima aula, hoje vamos fala de Oxalá.  Vou citar algumas saudações para Oxalá. A gente possui uma saudação genérica para todos os Orixás e todos os guias que quer dizer salve. Inclusive, acredita-se que a palavra Saravá é uma palavra exclusivamente umbandista, não existe na língua Iorubá, não existe em outra língua que a gente tenha conhecimento, nem na Cultura Afro nem na Cultura Indígena. Se eu estiver errado eu me corrijo, se alguém encontrar algum dicionário de línguas Africanas ou línguas Indígenas que explique a palavra Saravá eu me corrijo com o maior prazer, mas até hoje não se encontra referência lingüística ou etimológica para a palavra Saravá. Acredita-se que Saravá é uma forma de falar a palavra salve. Então a saudação geral para todos Orixás pode ser simplesmente Salve ou seja, “Salve nosso pai Oxalá, salve”; “Salve nossa mãe Oxum, salve”; “Salve nosso pai Obaluayê, salve”; “Salve o nosso pai Omulu, salve”; “Salve nosso pai Xangô, nosso pai Ogum, nossa mãe Iansã, nossa mãe Egunitá, nossa mãe Logunã, salve Iemanjá, salve todos os Orixás”. No entanto, é comum que haja uma relação estreita entre um Orixá e uma palavra de saudação porque isso já foi questionado aqui em aula várias vezes: porque colocar uma saudação em Iorubá para um Orixá ? Por exemplo: Salve nosso pai Xangô “Kao Kabecile meu pai Xangô”. Salve nossa mãe Oxum “Ora ieiê ô mamãe Oxum” salve nosso pão Omulu “Atotô meu pai Omulu”  Já fui questionado porque usar essa saudação e é comum nos terreiros de Umbanda a gente ver ainda, não sei se é certo eu colocar dessa forma, ainda uma referência Iorubana na saudação dos Orixás. Foi a pergunta de um aluno: “Alexandre, se a gente está na Umbanda que é uma religião brasileira, tudo é falado em português, os pontos cantados são em português, porque usar uma saudação Nagô Iorubá para o Orixá ?”  É porque muitas dessas saudações tem o peso ou o valor de um mantra. É como se fosse uma palavra de poder. Então quando eu digo Atotô Obaluayê eu estou repetindo uma saudação milenar a este Orixá e acreditamos que repetir uma saudação milenar é evocar o poder daquela palavra enquanto mantra, como um mantra para o Orixá. Mantra é uma palavra de poder quando entoado da forma correta. A forma correta é principalmente a forma respeitosa na qual se repete a palavra cantando ou mantrando. A palavra mantra vem da Cultura Hindu aonde se repetem os nomes das Divindades e suas saudações que é uma forma de fazer mantra. Mas no momento em que estou rezando, no momento em que estou evocando e repetindo o nome das Divindades de certa forma também estou fazendo um mantra.  Essas saudações são saudações, mantras ou mantricas para os Orixás. Essa é a minha compreensão porque afinal de contas se eu for radical e disser que tudo tem que estar na língua portuguesa, então o próprio nome do Orixá teria que mudar, eu não poderia mais falar ”meu pai Oxalá” eu teria que falar “meu pai Divindade do branco”. Há coisas que se preservam, ora nós também não saudamos ou acendemos vela, não todos, mas muitos de nós acende velas a são Miguel Arcanjo, São Gabriel, São Rafael ? São nomes que vem do Judaísmo também e não estão no português. Nós também não evocamos a presença de Santos Católicos ? Os nomes tem uma referência cultural, então nome de Orixá tem referência cultural e sua saudação as vezes também. Nesta aula de Oxalá, eu vou me estender em alguns conceitos preliminares que servirão para todos os Orixás, tanto na aula de Oxalá quanto na aula de Logunã que é Oiá Tempo. Por isso é que vou dedicar uma aula inteira só para Oxalá e depois uma aula inteira só para Logunã e logo após uma aula inteira para Oxum e Oxumaré, uma aula inteira para Oxossi e Oba mas para Oxalá uma aula inteira que é para dar referências que servirão para todos os Orixás, como a explicação e saudação. Então uma saudação para Oxalá Exeuê Babá, Epa babá ou a saudação brasileira que se diz “Oxalá é meu pai”. Então estas são saudações comuns mas não quer dizer que são as únicas formas de saudar Oxalá, há terreiros que criam saudações. É certo então quando eu coloco aqui saudação para Oxalá ? É uma orientação ou é uma sugestão ? Mas não é radical “ah, se não faz assim está errado”, não, é uma forma de saudar Oxalá. O que eu é que quer dizer Exeuê, Babá ou Epa babá ? Quer dizer salve, estou saudando meu pai, meu pai maior, meu pai Oxalá. Baba quer dizer o pai, esta é a idéia. Dentro do contexto do que a gente chama de Sete Linhas de Umbanda a gente tem a primeira linha ou primeira vibração que é linha ou vibração da fé. Então aí está Oxalá. Oxalá é chamado de “o maior dos Orixás”. Porque é ele é chamado de “o maior dos Orixás ? Ele é o maior dos Orixás. Isso diminui os outros Orixás ? Não, não diminui porque nada diminui uma Divindade, isso é algo para ser interpretado porque é que ele é o maior dos Orixás. Qual é o sentido em que está Oxalá ? Ele está no sentido da fé. Pois bem, em religião o que há de mais importante é a fé. Se Oxalá está na fé ele está no sentido principal, sem fé não há religião, por isso se eu pegar uma escala de valores, Oxalá está no topo porque ele está na fé.  Logo depois se eu colocar em escala, viriam o amor, conhecimento, justiça, lei, evolução e geração. Agora é importante que se diga que o primeiro não é o mais importante que o último porque tudo tem o seu campo de atuação, tudo tem o seu valor, mas embora a fé esteja no topo no que diz respeito, sem fé não tem amor, porque fé aqui não é apenas a fé religiosa e sim o ato de crer, não há amor quando eu não creio, eu devo crer. Sem fé e sem amor não há conhecimento real, por exemplo, estou aqui dando aula, estou passando conhecimento, não haveria valor nenhum nesse conhecimento se não fosse um ato de fé, ou seja, se eu não acreditasse no que eu estou ensinando. Se o que eu estou ensinando não fosse feito com amor também não teria conhecimento real e não apenas conhecimento da realidade ou um conhecimento verdadeiro mas um conhecimento real também no que diz respeito de realeza de valor do que é o conhecimento religioso. Só tem fundamento quando tem amor e fé e não surge justiça sem conhecimento, amor e fé. Sem justiça não há lei, sem fé, amor, conhecimento, justiça, lei não há evolução e não se gera nada.  Então há uma escala e dentro dessa escala a fé está no topo. Pelo fato de estar no topo, se eu mudar o meu ponto de vista, se eu apagar uma pirâmide de valores ou de sentidos em que todos tem a sua importância, o fato da fé estar no topo e que sem fé não tem amor, conhecimento, a fé é a base. Então fé não é a base daquela pirâmide mas é a base da religião. Fé é a base do existir. Oxalá é a base do existir e ao mesmo tempo é a base da criação e dentro de um olhar cosmológico, Oxalá é a base da criação. Por isso ele é considerado o Orixá das formas, o Orixá da plenitude, o Orixá do espaço infinito. Ele é ao mesmo tempo o espaço onde tudo acontece e faz um par com Oiá Tempo ou Logunã, que é o tempo. Oxalá e Logunã juntos formam o eixo espaço e tempo, e esse eixo espaço tempo é a base para a criação de uma realidade. Sem esse eixo não haveria a nossa realidade.  É por isso que em Lendas da Criação, Olorun, o primeiro Orixá externado, o primeiro Orixá criado em uma escala de cosmologia temos Exu-Mirim, Exu e então vem Oxalá. Se diz que Oxalá é o mais velho dos Orixás, exatamente, mas quando ele foi criado Exu já estava lá porque quando eu falo que um é mais velho que outro, quando falo que um é primeiro e o outro não, eu estou fazendo uma abordagem racional, estou colocando em escala, estou colocando na linha do tempo e Exu transcende tudo isso. Exu transcende e está lendo o que é racional, do que é classificável, do que entra em uma linha do tempo, do que eu digo que vem primeiro e o que não vem primeiro. Então eu digo que Oxalá é o primeiro Orixá mas quando ele chega na criação Exu já esta lá.
 Essa é a questão, então ele não perde o status de mais velho dos Orixás mas Exu já estava lá, no entanto a base da criação é Oxalá. O que diz respeito a Exu que é de difícil classificação, não é algo que entra na linha racional mas nós teremos uma aula só para falar sobre Exu, aliás, muito mais do que uma aula para falar sobre Exu, Orixá Exu e uma perspectiva de Umbanda. Agora é importante falar sobre Oxalá, a base da criação.  Oxalá é o espaço onde tudo passará a ser acomodado no universo, é o espaço infinito onde tudo existe. Pois vejam, todos os Orixás são forças da natureza, é uma definição. O que são Orixás? Orixás são forças da natureza. “Ah, então Oxossi são as matas, Oxum são as cachoeiras, Iemanjá é o mar, Xangô são as montanhas, Iansã são as pedreiras” sim, mas não é apenas isso. Orixás são forças da natureza, ao mesmo tempo são mentais planetários, ao mesmo tempo são Divindades, ao mesmo tempo são a presença do criador por meio de suas qualidades infinitas identificadas nesse ou naquele campo de atuação. Então Oxalá é o espaço infinito, por isso ele está em todo lugar e ao mesmo tempo, Oxalá é uma Divindade de Deus, ao mesmo tempo Oxalá é a manifestação de um dos sentidos do criador para a sua criação. Ele é o espaço infinito, a Divindade do branco, da paz, da harmonia, da tranqüilidade, do perdão, da humildade e de tudo aquilo ao qual nós identificamos em Oxalá. Ele também é em si o sentido da fé, tudo isso e muito mais é o nosso pai Oxalá.

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