terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Musicalidade na Umbanda







Louvação aos Ogãs
Ah, como é lindo o batuque do Tambor
Ah, como é lindo o batuque do Tambor
Na Umbanda linda de Nosso Senhor
Na Umbanda linda de Nosso Senhor
É a mensagem que enaltece os Orixás
É a oração que elevo ao senhor
É a vibração que nos faz incorporar
Sem batuque na umbanda
Que o canto faz a gira de Umbanda
Quem canta, encanta a vida dos Orixás
É uma benção, divina que emana muita paz.

Oração do Músico!
Deus todo-poderoso, que nos destes a vida, os sons da natureza, o dom do ritmo, do compasso e da afinação das notas musicais, dai-nos a graça de conseguir técnica aprimorada em nossos instrumentos a fim de que possamos exteriorizar nossos sentimentos através dos sons. Permite Senhor, que os sons por nós emitidos sejam capazes de acalmar nossos irmãos perturbados, de curar doentes e de animar os deprimidos e sejam brilhantes como as estrelas e suaves como o veludo. Permite Senhor, que todo ser que ouvir o som dos nossos instrumentos sinta-se bem e pressinta a vossa presença.
Amém!

Inicio:
A música é utilizada desde os tempos mais remotos, como uma forma de contato entre nós, seres
humanos e a Divindade. Na própria Bíblia existem muitas passagens que nos mostram isso.
A Umbanda, também se utiliza desse processo, através dos pontos cantados, que são verdadeiras preces verem ali, desejoso de suprir suas necessidades de vícios.
Analisando calmamente o ato de ofertar, todo o axé emitido por nós e o axé recebido dos Orixás, é algo que dura poucos segundos, no máximo um ou dois minutos - que sabemos que estamos emitindo e recebendo axé por causa da vibração do nosso corpo. A vela que acendemos normalmente demora quatro horas para queimar e, segundo alguns magos, ela deve ser queimada até o fim. Concordo, mas também acho que podemos levar uma vela que dure menos, talvez uma hora, que é o tempo que dá para esperar a queima total, enquanto refletimos e rezamos por aquilo que fomos buscar com a oferenda. Note que dá para fazer uma oferenda no local sagrado do Orixá, sem pressa, com muita fé, muito axé e sem depredar o meio ambiente. O que realmente manda na oferenda é a nossa fé, pois sem ela, estaríamos desperdiçando tempo e dinheiro. Além de não contribuirmos com a degradação ambiental, ainda reconquistamos o respeito da comunidade em relação à religião que respeita e protege a natureza.
Certa vez me perguntaram o que fazer com o material contido na oferenda, já que não será mais
usado como lixo ambiental. Ora, uma vez que foi devidamente utilizado como meio de transporte de axé, a comida pode e deve ser consumida, a bebida tomada e materiais não consumíveis, reutilizados. E sabem por que podemos fazer isso? Porque a oferenda de um umbandista só contém coisas boas, boas vibrações, boas intenções, o desejo de fazer o bem, e isso tudo só atrai energia boa para a comida e bebida da oferenda. Isso é Umbanda: o respeito ao ser humano, o respeito aos animais, o respeito à natureza, e por isso, a religião com fundamentos que funcionam. Musicais, que dinamizam forças naturais e nos fazem entrar em contato íntimo com as Potências Espirituais que nos regem.
O ponto cantado está entre os fundamentos de maior importância para os trabalhos dentro de uma
tenda de Umbanda e por isso, os curimbeiros e ogãs devem conhecer o mínimo necessário sobre a magia musical gerada por esses cânticos, para que os mesmos sejam entoados no momento certo, uma vez que possuem vibrações e finalidades próprias para cada momento ou tipo de trabalho. Isso é importante, pois, quando entoados em hora imprópria, os pontos podem perder o sentido, ou até atrapalhar a sessão.
Quanto à origem, dividem-se em pontos de raiz, que são enviados pelos espíritos (incorporados ou através de outra manifestação mediúnica, como a inspiração), ou pontos terrenos, são feitos pelas pessoas, sem intervenção espiritual.
Irmão umbandista, “cante com o coração”, pois palavras jogadas ao vento não trarão as energias necessárias que ele poderia gerar e vibrar dentro do terreiro. Sinta o que você está entoando e deixe a energia fluir, envolvendo sua casa com as forças positivas do Astral.
A partir do momento que os ogãns e os médiuns têm a consciência da importância do mantra dos
atabaques, o respeito por eles ganha grande importância.
Pouca gente cultua, mas junto aos atabaques, o Rum, o Rumpi e o Lé, sempre ficam uma entidade
zelando pelo som que eles produzem. Inegavelmente os mantras dentro da Umbanda, além do som dos atabaques e sua engoma, são os pontos cantados. Existem pontos cantados para todas as situações do ritual, como abertura da gira até seu encerramento, até mesmo para homenagear visitas de Pais ou Mães de Santos. No caso presente falamos dos pontos que são mantras dentro da Umbanda, ou seja aquele som que ecoa pelo espaço ou éter até alcançar as camadas para as quais esse som foi projetado. Mais objetivamente vamos comentar sobre os pontos cantados individuais dos espíritos e dos de linha.

Ponto individual
O ponto individual é aquele que é o elo musical com uma determinada entidade. Se no Terreiro sabe estarem chamando por ela. Existem fatos dentro da Umbanda muito interessantes e que passam a servir como proteção aos Terreiros. Em um ponto cantado de uma entidade, dificilmente um obsessor se fará passar por ela. Exemplificando, se vai se chamar um Pai Joaquim de Angola no seu ponto certo, conhecido e tradicional, nenhuma entidade mentirosa se fará passar por ele, porque a sua responsabilidade da eventual falsidade vai lhe acarretar a obrigação de responder por esse ato perante o próprio Pai Joaquim, o que nenhum obsessor com certeza quer. Então o ponto individual é o mantra criado com determinada entidade,
que não deve ser mudado e sempre cantado o mesmo.

Pontos de linha
Ponto de linha é o que chama as entidades de determinada linha, sem ser uma entidade nominada, mas todas as entidades daquela linha. Por exemplo, quando se canta para Oxóssi, todos os caboclos podem incorporar, desde que seja desta linha. Não pode é um caboclo de Ogum ou Xangô incorporar em um ponto de Oxóssi. Usa-se muito esse recurso. Chama-se a entidade e depois o ponto de linha para que todos os falangeiros da entidade possam incorporar.

CURIMBA E ATABA QUES
Curimba é o nome que damos para o grupo responsável pelos toques e cantos sagrados dentro de um terreiro de Umbanda.
São eles que percutem os atabaques (instrumentos sagrados de percussão), assim como conhecem cantos para as muitas “partes” de todo o ritual umbandista.
Esses pontos cantados, junto dos toques de atabaque, são de suma importância no decorrer da gira e por isso devem ser bem fundamentados, esclarecidos e entendidos por todos nós.
Muitas são as funções que os pontos cantados têm.
Primeiramente uma função ritualística, onde os pontos “marcam” todas as partes do ritual da casa.
Assim temos pontos para a defumação, abertura das giras, bater cabeça, etc. Temos também a
função de ajudar na concentração dos médiuns. Os toques assim como os cantos envolvem a mente do médium, não o deixando desviar – se do propósito do trabalho espiritual.
Além disso, a batida do atabaque induz o cérebro a emitir ondas cerebrais diferentes do padrão comum, facilitando o transe mediúnico.
Esse processo também é muito utilizado nas culturas xamânicas do mundo afora.
Entrando na parte espiritual, os cantos, quando vibrados de coração, atuam diretamente nos chacras superiores, notavelmente o cardíaco, laríngeo e frontal, ativando-os naturalmente e melhorando a sintonia com a espiritualidade superior, assim como, os toques dos atabaques atuam nos chacras inferiores, criando condições ideais para a prática da mediunidade de incorporação.

As ondas energéticas sonoras emitidas pela curimba vão tomando todo o centro de Umbanda e vão dissolvendo formas – pensamentos negativas, energias pesadas agregadas nas auras das pessoas, diluindo miasmas, larvas astrais, limpando e criando toda uma atmosfera psíquica com condições ideais para a realização das práticas espirituais.
A curimba transforma-se em um verdadeiro “polo” irradiador de energia dentro do terreiro, potencializando ainda mais as vibrações dos Orixás.
Os pontos transformam-se em “orações cantadas”, ou melhor, verdadeiras determinações de magia, com um altíssimo poder de realização, pois é um fundamento sagrado e divino.
Poderíamos chamar tudo isso de “magia do som” dentro da Umbanda.
A Curimba também é de suma importância para a manutenção da ordem nos trabalhos espirituais, com os seus pontos de “chamada” das linhas, “subida”, “firmeza”, “saudação”, etc.
Entendam bem, os guias não são chamados pelos atabaques como muitos dizem. Todos já se encontram no espaço físico - espiritual do terreiro antes mesmo do começo dos trabalhos. Portanto a curimba não funciona como um “telefone”, mas sim como uma sustentadora da manifestação dos guias. O que realmente invoca os guias e os Orixás são os nossos pensamentos e sentimentos positivos vibrados em vossas
direções. Muitas vezes ao cantar expressamos esses sentimentos, mas é o amor aos Orixás a verdadeira invocação de Umbanda.
Falando agora da função de atabaqueiro e curimbeiro, ou simplesmente da função de “ogã” como
popularmente as pessoas chamam na Umbanda, enfatizamos a importância deles serem bem preparados para exercerem tal função em um terreiro.
Infelizmente ainda hoje a mentalidade de que o ogã é “qualquer um que não incorpore” persiste.
Mas afirmamos, o ogã como peça fundamental dentro do ritual é também um médium intuitivo que tem como função comandar todo o “setor” da curimba e pode também ser portador de outras faculdades mediúnicas. Por isso faz - se necessário que seja escolhido uma pessoa séria, estudada, conhecedora dos fundamentos da religião.
Além disso, o ideal é que o “neófito” que busca ser um novo ogã procure uma escola de curimba,
onde aprenderá os fundamentos, os toques de nação e “como”, “o quê” e “quando” cantar. Mulheres também podem ser atabaqueiras e curimbeiras, SIM! Nunca vimos um caboclo ou preto-velho proibindo mulher de tocar atabaque, por isso afirmamos, na Umbanda mulher toca e canta sim e, diga-se de passagem, muitas vezes melhor do que os próprios homens.
Por fim, queremos fazer alguns comentários a cerca da espiritualidade que guia os trabalhos da
curimba. Muitas linhas de Umbanda existem no astral e trabalham ativamente nele, apesar de não incorporarem.
Existem muitas linhas de caboclos, exus, pombo giras etc., que por motivos próprios trabalham nos “bastidores”, sem incorporarem nos tomarem a “linha de frente” dos trabalhos espirituais.
Também existe uma corrente de espíritos que auxiliam nos toques e cantos da curimba. São mestres na música de Umbanda, verdadeiros guardiões dos mistérios do “som”. Normalmente apresentam-se com a aparência de homens e mulheres negras, com forte complexão física para os homens, e bela, mas igualmente forte para as mulheres.
Seus trajes variam muito, indo desde a roupagem mais simples como um “escravo” da época colonial, como até mesmo o terno e o vestido branco. São espíritos bondosos, muito alegres e divertidos, que com o cantar encantam a muitos no astral. Alguns se fazem presente auxiliando o toque, outros o canto e outros ainda auxiliam a manutenção da energia e sua dissipação dentro do terreiro.
Muitas vezes chega a acontecer uma espécie de “incorporação” desses guias com os ogãs, os inspirando a determinados toques e cantos. Qualquer pessoa com experiência em curimba pode relatar casos aonde um ponto vem na hora que ele é necessário e depois você simplesmente o esquece. Isso acontece sobre inspiração desses mentores.
Algumas vezes também, em festas de Umbanda e dos Orixás, onde muitos se reúnem, percebemos que diversos espíritos chegam portando seus “tambores astrais”, percutindo-os a partir do astral, ajudando na sustentação e na energia das festividades, potencializando ainda mais os toques dos atabaques e as energias movimentadas.
Quando os guias, incorporados fazem sua saudação à frente dos atabaques, estão saudando as
pessoas que tocam, estão pedindo para que as forças movimentadas pela curimba sejam benéficas a todos, mas estão principalmente, saudando e agradecendo a toda essa corrente de trabalhadores “anônimos” do astral.
Estão percebendo como muita coisa foge aos nossos sentidos em uma “simples” e humilde gira de Umbanda? Sabemos que esse universo da curimba muitas vezes é pouco explicado, e muitos chegam a defender a abolição dos atabaques dos centros de Umbanda.
A isso, os próprios guias e mentores de Umbanda respondem, tanto incentivando os toques e trazendo mentores nesse “campo”, como também, abrindo turmas de estudo de Umbanda e desenvolvimento mediúnico, onde percebemos claramente que o “animismo” acontece por despreparo do médium, falta de estudo ou orientação e não pelo uso de atabaques.
Os atabaques devem ser tratados com o máximo de respeito e nenhuma pessoa desautorizada
deverá tocá-los, o que poderia colocar em risco o equilíbrio da gira e a faixa mediúnica dos médiuns da corrente. Quando fora de uso, os atabaques, devem ser cobertos com pano próprio. É importante observar que o toque (volume) dos atabaques nunca deve exceder as vozes da corrente. Quando o atabaque excede a corrente se desorganiza e o médium perde a concentração, atrapalhando e muito o desenvolvimento dos médiuns e o bom andamento do trabalho.

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